quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O amor se constrói na escuta
"Os adultos falam a partir do tempo deles, das coisas que eles já viveram e acham que é certo e errado. As crianças falam com a imaginação". João Bocchini Antunes, 6 anos.

Perguntas de crianças com respostas de adultos geralmente não combinam. Mas podem nos fazer pensar: Como sou como adulta? Como sou mãe, pai, educador...?

Todos os dias têm a mesma quantidade de horas? E a noite e o dia, tem seus tempos iguais?
Se, supostamente sim, por que momentos passam mais rápidos que outros?

O que faz um mês de férias passar na velocidade da luz e um mês na escola parecer uma eternidade? Aliás, existe alguma velocidade mais rápida que a da luz?

Ao buscar na escola, a mãe está preocupada em como foi o dia na escola, se fez a tarefa, se aprendeu, se fez amigos, se comeu bem, se tem tarefa para o dia seguinte... mas, jogando o jogo do filho, pergunta: seu dia passou rápido ou devagar? Ela se alegra demais quando o dia passou rápido, e como se preocupa com aqueles dias que passaram tão devagar a ponto de uma criança tão intensa e criativa simplesmente se apagar.

Até quando a gente vai assistir nossos filhos serem apagados? O que precisamos fazer para que as crianças sejam escutadas? Para que escutar as crianças, não é mesmo? “Elas, tão ingênuas, ainda não sabem de nada.... ainda tem muito o que aprender com a vida”. Serão elas ingênuas ou elas estão gritando para nós adultos querendo mostrar a beleza da simplicidade, dos detalhes, do óbvio. O dia que a sociedade entender que as crianças têm muito a nos dizer, acho que uma mudança pode começar a acontecer.

Quando a criança dorme não percebe a hora passar, mas também não vê a hora de acordar e começar mais um dia que passa rápido. Enquanto ele dorme a mãe o observa e pensa em Fernando Pessoa: “O valor das coisas não está no tempo que elas duram, mas na intensidade com que elas acontecem. Por isso existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis”.

Eu quero mesmo é viver a velocidade da luz, como será que é mãe?
Filho, eu não sei; acho que ela é intensa e se, me permite falar de amor, cada vez mais penso que “o amor se constrói na escuta”. Por isso, quero saber: o que você acha? Como é a velocidade da Luz?
Mãe, a velocidade da Luz é mais rápida que a do som. Da para perceber quando a gente vê o trovão e só depois ouve...

* texto construído a partir de perguntas do meu filho João de 6 anos. Ele é encanado com esta tal velocidade da Luz. Eu, como adulta chata, nunca havia me questionado sobre isso. Ao conversar sobre estas coisas com meu amigo Franco, ele me passou o trecho do Fernando Pessoa citado aí no texto. A foto foi tirada em 2015 em Alter do Chão pelo André, pai do João. Enfim, este textinho foi uma construção coletiva

Um comentário:

  1. É no brilho dos olhos das crianças,
    Na espontaneidade dos seus sentimentos,
    Na risada mais calorosa e libertadora
    Que a esperança de um novo mundo se faz.
    Um mundo que precisa de amor, do resgate da curiosidade mais infantil,
    Da solidariedade mais fraterna, do calor humano mais fortemente sentido. Parabéns Ana por esse texto que provoca e nos trás tanta esperança que é possível construir um mundo não para, mas com as crianças.

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