A criança aprende o abecedário, estuda as letras e palavras muitas vezes descontextualizadas de sua vida. Mas nunca algum adulto contou para essa criança como ele usa a escrita em sua vida. Uma legenda de filme, um jornal com notícias, uma receita, uma bula de remédio, um livro que pode fazer com que você se divirta e aproveite seu tempo livre.
Mas tudo bem. As crianças são inteligentes e sozinhas
começam a perceber que a escrita está por todos os lados e, portanto, deve
servir para um monte de coisas! Uma placa na rua, um nome de mercado, o nome do
ônibus, a etiqueta da roupa, o nome do pacote de bolacha...
Mas não importa o que ela descobre. Importa aprender a
escrever o nome, o A E I O U, o abecedário inteiro, mesmo sem fazer sentido
algum para uma criança da educação infantil, que aprende a partir do concreto e
não do abstrato.
Mas mesmo nessa “fase concreta”, algumas crianças de 4 ou 5
anos conseguem aprender o abecedário, a formar sílabas e palavras. Afinal de
contas sabemos que cada pessoa tem o seu tempo de aprender algo, uns antes,
outros depois. Não significa que um é superdotado e outro tem déficit de
atenção. Apenas cada um tem seu tempo. Tem crianças que com um ano e meio já
falam tudo; outras passam a falar tudo apenas com três. Os dois “grupos”, acredite: são normais. O mesmo acontece com o
domínio da escrita e da leitura: uns com 5, outros com 6 e outros com 7, mesmo
estando sob as mesmas condições de “aprendizagem” na escola.
Como algumas crianças da educação infantil já conseguem ler
e escrever algumas coisas, decide-se que é possível alfabetizá-las antes do tempo.
Como só algumas “aprendem”, pais e professores começam a
comparar; e já que estamos comparando por que não competir? Crianças que
adivinham as palavras nos jogos da sala de aula ganham “parabéns”, com um
sorriso inesquecível da professora. A que não consegue ler a palavra não ganha este
mesmo sorriso.
* O termo cultura escrita foi tirado de uma entrevista com Emília Ferreiro, quando ela fala que na Educação Infantil se deve ensinar a "cultura escrita" ao invés de copiar práticas ruins do ensino fundamental. A partir desta entrevista, aliado à conversas com amigos que
têm filhos na educação infantil, minha experiência como mãe de uma criança de 5
anos e leituras que venho fazendo sobre o assunto, escrevi este texto!