terça-feira, 28 de abril de 2015

Aprender o ABC ou ensinar a “cultura escrita”?*

Alguns pais e professores têm pressa para que crianças de 4-5 anos aprendam a ler; Mesmo que alguns deles não tenham o hábito da leitura; mesmo que alguns deles não leiam histórias para seus filhos ou alunos; mesmo que alguns deles sequer tenham livros, revistas ou jornais em casa.

A criança aprende o abecedário, estuda as letras e palavras muitas vezes descontextualizadas de sua vida.  Mas nunca algum adulto contou para essa criança como ele usa a escrita em sua vida. Uma legenda de filme, um jornal com notícias, uma receita, uma bula de remédio, um livro que pode fazer com que você se divirta e aproveite seu tempo livre.

Mas tudo bem. As crianças são inteligentes e sozinhas começam a perceber que a escrita está por todos os lados e, portanto, deve servir para um monte de coisas! Uma placa na rua, um nome de mercado, o nome do ônibus, a etiqueta da roupa, o nome do pacote de bolacha...

Mas não importa o que ela descobre. Importa aprender a escrever o nome, o A E I O U, o abecedário inteiro, mesmo sem fazer sentido algum para uma criança da educação infantil, que aprende a partir do concreto e não do abstrato.
Mas mesmo nessa “fase concreta”, algumas crianças de 4 ou 5 anos conseguem aprender o abecedário, a formar sílabas e palavras. Afinal de contas sabemos que cada pessoa tem o seu tempo de aprender algo, uns antes, outros depois. Não significa que um é superdotado e outro tem déficit de atenção. Apenas cada um tem seu tempo. Tem crianças que com um ano e meio já falam tudo; outras passam a falar tudo apenas com três. Os dois “grupos”,  acredite: são normais. O mesmo acontece com o domínio da escrita e da leitura: uns com 5, outros com 6 e outros com 7, mesmo estando sob as mesmas condições de “aprendizagem” na escola.

Como algumas crianças da educação infantil já conseguem ler e escrever algumas coisas, decide-se que é possível alfabetizá-las antes do tempo.

Como só algumas “aprendem”, pais e professores começam a comparar; e já que estamos comparando por que não competir? Crianças que adivinham as palavras nos jogos da sala de aula ganham “parabéns”, com um sorriso inesquecível da professora. A que não consegue ler a palavra não ganha este mesmo sorriso.



* O termo cultura escrita foi tirado de uma entrevista com Emília Ferreiro, quando ela fala que na Educação Infantil se deve ensinar a "cultura escrita"  ao invés de copiar práticas ruins do ensino fundamental. A partir desta entrevista, aliado à conversas com amigos que têm filhos na educação infantil, minha experiência como mãe de uma criança de 5 anos e leituras que venho fazendo sobre o assunto, escrevi este texto!

terça-feira, 14 de abril de 2015

Helena Singer, assessora do Ministro da Educação pretende dar visibilidade a projetos radicais


Lembro uma vez na faculdade de pedagogia, há cerca de 11 anos, quando eu questionei a aplicabilidade das aulas de estatística em nosso curso (ainda mais da forma como era passada!). O professor de estatística me respondeu que é mais fácil o MEC contratar um estatístico do que um pedagogo.

Os números ligados à educação básica no Brasil melhoraram. Mais crianças estão na escola, as notas nas provas aumentaram, mais pessoas têm acesso à universidade. (vários destes indicadores são facilmente consultados no Portal do Inep.

Mas para aqueles que discutem qualidade de ensino estes números são questionados. As crianças são alfabetizadas de fato, sabendo interpretar o que lêem? Estamos formando pessoas críticas, pensantes, reflexivas, éticas, que valorizam a diversidade cultural e o respeito e à natureza?

Após anos de investimento nos números, será a vez de investimento na qualidade de ensino?

O novo ministro da educação Renato Janine Ribeiro já disse que vai priorizar educação básica. Helena Singer em sua equipe nos traz esperança não só de melhora, mas de transformação: “A inovação parcial, incremental, vem ganhando força, mas quero falar de experiências que radicalizem a forma de organizar o tempo, que trabalhem o espaço de modo totalmente diferente – como a de escolas que não estruturam mais o currículo em cima de aulas convencionais de 50 minutos nem 
usam carteiras enfileiradas de frente para a lousa”

Veja matéria veiculada pelo geekie que trata do assunto: 

http://info.geekie.com.br/assessora-de-ministro-quer-divulgar-inovacao-radical/?utm_content=13980706&utm_medium=social&utm_source=facebook

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Educação em Manaus: outro modelo é possível!

Manaus é uma cidade que atrai pessoas de todo o Brasil que vem trabalhar nas mais diversas áreas. Para aqueles que têm filhos e procuram uma escola que valorize o aluno dando voz às crianças, que queira os pais e a comunidade mais perto, que dê importância à capacidade de pensar e argumentar em vez da repetição e exposição ao conteúdo, Manaus não é o lugar ideal.

As escolas particulares de Manaus são quase estritamente conteudistas, muitas delas religiosas, sem respeitar a diversidade cultural. Quem já ouviu falar na pedagogia Waldorf, nas escolas democráticas, até mesmo no construtivismo, ou qualquer outra linha pedagógica que seguem os ideais de grandes educadores como Paulo Freire, José Pacheco, Emília Ferreiro, entre outros, sofre com a falta de opções em Manaus. As escolas públicas, infelizmente, seguem a realidade precária da rede pública no nosso país.

Como pedagoga, moradora de Manaus há 7 anos e mãe de dois filhos (um deles quase no 1º ano do Ensino Fundamental, já sendo cobrado a saber escrever antes da hora, com 4-5 anos, que usa livros didáticos prontos que ensinam África antes de Brasil, Pantanal antes de Amazônia, etc, etc...), este tema não sai da minha cabeça. Vou ficar sempre reclamando das escolas que eles estudam? Vou mudar de cidade? Ou vou tentar fazer algo diferente?

Qualquer uma destas coisas podem acontecer na minha vida e antes de tomar uma decisão organizei um encontro entre mães, pais e interessados em discutir “educação” em Manaus: outro modelo é possível?


O encontro foi ontem e como ponto de partida assistimos o filme “Quando eu sinto que já sei”. Depois cada um falou um pouco sobre o filme, sobre as angústias das alternativas de escolas em Manaus para nossos filhos e sobre possibilidades de ações para tentarmos transformar um pouco essa realidade de escolas tradicionais e/ou precárias.


Doze pessoas estavam presentes e já temos uma rede de e-mails de 40! O segundo encontro foi marcado para o final deste mês. Um grupo começa a se formar. Pessoas engajadas, dispostas a agir e estudar, interessadas em uma educação melhor não só para nossos filhos, mas também para a sociedade manauara! Já temos alguns encaminhamentos concretos e de uma coisa estou certa: Saímos deste encontro com uma esperança por mudança e transformação!

terça-feira, 7 de abril de 2015

Quando sinto que já sei



O filme "Quando eu sinto que já sei" me tocou de forma especial. É muito bom ver que existem alternativas possíveis ao modelo educacional atual. Melhor ainda é ver o tanto de gente boa que tem espalhada pelo Brasil tentando fazer algo diferente.

Em tempos de tantas más notícias, que ferem os direitos das minorias, assistir este vídeo me trouxe uma esperança. Esperança de um mundo melhor, de transformação e mudança. Amanhã vou passar este filme para um grupo de pais e mães interessados em discutir modelos alternativos de educação em Manaus.

Será que é possível um modelo de educação democrática em Manaus?