quarta-feira, 15 de julho de 2015

Não temos (ainda) a escola que sonhamos, mas temos um Coletivo!


O CEFA – Coletivo Escola Família Amazonas – surgiu a partir de conversas informais no portão de escola, em festas e churrascos: “que escola colocar nossos filhos? Tem uma pública legal? As particulares são muito caras? Eles fazem atividades fora da sala de aula na escola? Precisa usar uniforme? Tem muita tarefa? Eles têm tempo para brincar? Os professores são afetuosos? Tem esportes e atividades de artes?”, etc, etc...

Nossos filhos fizeram com que nós, colegas de portão de escola e festinhas infantis, virássemos grandes amigos. Hoje temos um grupo em Manaus. Um coletivo de pais, mães e crianças. As crianças já se reconhecem entre si como um grupo. Assim como tem os amigos da rua, da escola, tem as crianças do CEFA. Nos finais de semana nos encontramos para fazer um peixe assado, para passear no rio negro, ir à cachoeiras, sair para tomar um sorvete, etc.

Os adultos criaram um laço de amizade. Muitos de nós trabalhamos fazendo viagens e quando a mãe ou o pai fica sozinho com as crianças em casa, já sabe para quem ligar para pedir uma força! Nos tornando amigos passamos a ver que compactuamos não só com a ideia que temos de escola, mas também de visão de mundo, de valores...


Ainda estamos preocupados com a escassa opções de escolas que valorizem a criança, dando voz à elas e estimulando as diferentes linguagens, mas temos um grupo, um coletivo, que compactua as mesmas ideias e as crianças já se identificam entre si!

quinta-feira, 14 de maio de 2015

Projeto Âncora, Escola Politeia e EMEF Campos Salles: provas de que é possível transformar a escola

EMEF Campos Salles: os salões uniram diferentes turmas e
não utilizam mais o sistema de aula expositiva.
Visitei estas três escolas semana passada em São Paulo. As visitas foram bem diferentes de visitas que ando fazendo em Manaus para escolher a futura escola do meu filho... No Âncora fui guiada por uma criança de 11 anos que mostrou o espaço da escola e conversou sobre como ela funciona, quais são as regras, o que eles estudam e o que ele acha da escola. Na Politeia, após 10 minutos que estava lá, me convidaram para um passeio ao parque que um grupo de alunos escolheu como atividade para a primeira parte da tarde. Por fim, ma Campos Salles,  após conversa com educadores, conversei cerca de 20 minutos com a presidente a vice presidente da escola, duas simpáticas meninas de 12 e 13 anos que me contaram um pouco do dia a dia, dos desafios que elas encontram e do que estão estudando.

Projeto Âncora, uma ONG que tem uma escola particular filantrópica de Educação infantil e Ensino Fundamental; Politeia, um colégio particular de ensino fundamental; EMEF Campos Salles uma escola municipal também de ensino fundamental. Três realidades diferentes, onde aprendi muito em cada uma delas. Para cada uma das experiências vou escrever um post, mas por enquanto aqui gostaria de destacar alguns pontos que encontrei em comum.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional diz que “A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) não são divididos por série e valorizam a interdisciplinaridade. O que estas escolas (e tantas outras - Veja link de mapeamento de escola democráticas no mundo) fazem não é novo, não é inédito. É um processo de retomada de levar adiante o que educadores como Paulo Freire, Darcy Ribeiro e tantos outros já nos dizem há tempos.

Projeto Âncora: Na mesma mesa três crianças de idades diferentes,
cada uma fazendo uma atividade relacionada ao seu projeto
individual (uma lendo um livro, outra desenhando e outro escrevendo).
As três escolas que visitei são espaços livres, mas com regras. Regras construídas de forma tão natural que quando questionei um menino de 11 anos sobre como elas são construídas ele respondeu: “ah, a gente acha importante discutir alguma coisa, discute e decide as regras”. Conviver é assim; problemas e conflitos surgem e temos que resolver juntos, em equipe, para que faça sentido para todos envolvidos. Uma regra ditada muitas vezes pode não fazer sentido, uma regra onde há reflexão e decisão conjunta tem maior chance de ser seguida.

Nas três escolas a criança é vista como indivíduo único e não padronizado. Eles não usam uniforme, e um educando me explica: “Cada um é de um jeito. Acho chato todo mundo se vestir igual”.

Após estas três visitas constatei que além de ser possível transformar as escolas, é necessário e urgente. Se a escola já não fazia sentido antes, hoje não se adéqua a realidade atual, da era da informática. Um educando de uma destas escolas me disse que na escola que estudava antes o professor de matemática ficava em seus precisos 50 minutos de aula explicando a tabuada, mas ele não prestava atenção porque em 5 minutos poderia consultar a tabuada em seu celular. A escola como é, com o professor como detentor do saber, chega a parecer piada na era da informação/comunicação rápida.

Mural da escola Politeia com explicações da comissão
que organiza as saídas da escola
Uma educanda de 12 anos de uma das escolas me conta: “eu sempre gostei de estudar, mas na outra escola a aula tinha 50 minutos. Quando tinha passado uns 20 minutos eu estava começando a entender e me empolgar, mas aí logo tocava o sinal e eu tinha que parar e começar a pensar na outra matéria”. A colega dela, de 13 anos, completou:  “sentar nestas mesas redondas junto com os colegas é muito bom porque antes eu tinha que perguntar baixinho uma dúvida para um amigo, com medo que o professor visse. Hoje a gente se ajuda, discute e conversa sobre o roteiro que estamos fazendo. Não é só o professor que pode me ajudar. Um colega também pode!”.

Nestas escolas as crianças aprendem a interpretar, pensar, agir e ter valores como respeito, ajuda, ética, honestidade, entre outros... Não é uma tarefa fácil, é uma mudança de paradigma e fruto de muito trabalho. Nas três escolas me deixaram claro que educação se faz em conjunto, com trabalho em equipe entre educadores, educandos, pais e comunidade.

terça-feira, 28 de abril de 2015

Aprender o ABC ou ensinar a “cultura escrita”?*

Alguns pais e professores têm pressa para que crianças de 4-5 anos aprendam a ler; Mesmo que alguns deles não tenham o hábito da leitura; mesmo que alguns deles não leiam histórias para seus filhos ou alunos; mesmo que alguns deles sequer tenham livros, revistas ou jornais em casa.

A criança aprende o abecedário, estuda as letras e palavras muitas vezes descontextualizadas de sua vida.  Mas nunca algum adulto contou para essa criança como ele usa a escrita em sua vida. Uma legenda de filme, um jornal com notícias, uma receita, uma bula de remédio, um livro que pode fazer com que você se divirta e aproveite seu tempo livre.

Mas tudo bem. As crianças são inteligentes e sozinhas começam a perceber que a escrita está por todos os lados e, portanto, deve servir para um monte de coisas! Uma placa na rua, um nome de mercado, o nome do ônibus, a etiqueta da roupa, o nome do pacote de bolacha...

Mas não importa o que ela descobre. Importa aprender a escrever o nome, o A E I O U, o abecedário inteiro, mesmo sem fazer sentido algum para uma criança da educação infantil, que aprende a partir do concreto e não do abstrato.
Mas mesmo nessa “fase concreta”, algumas crianças de 4 ou 5 anos conseguem aprender o abecedário, a formar sílabas e palavras. Afinal de contas sabemos que cada pessoa tem o seu tempo de aprender algo, uns antes, outros depois. Não significa que um é superdotado e outro tem déficit de atenção. Apenas cada um tem seu tempo. Tem crianças que com um ano e meio já falam tudo; outras passam a falar tudo apenas com três. Os dois “grupos”,  acredite: são normais. O mesmo acontece com o domínio da escrita e da leitura: uns com 5, outros com 6 e outros com 7, mesmo estando sob as mesmas condições de “aprendizagem” na escola.

Como algumas crianças da educação infantil já conseguem ler e escrever algumas coisas, decide-se que é possível alfabetizá-las antes do tempo.

Como só algumas “aprendem”, pais e professores começam a comparar; e já que estamos comparando por que não competir? Crianças que adivinham as palavras nos jogos da sala de aula ganham “parabéns”, com um sorriso inesquecível da professora. A que não consegue ler a palavra não ganha este mesmo sorriso.



* O termo cultura escrita foi tirado de uma entrevista com Emília Ferreiro, quando ela fala que na Educação Infantil se deve ensinar a "cultura escrita"  ao invés de copiar práticas ruins do ensino fundamental. A partir desta entrevista, aliado à conversas com amigos que têm filhos na educação infantil, minha experiência como mãe de uma criança de 5 anos e leituras que venho fazendo sobre o assunto, escrevi este texto!

terça-feira, 14 de abril de 2015

Helena Singer, assessora do Ministro da Educação pretende dar visibilidade a projetos radicais


Lembro uma vez na faculdade de pedagogia, há cerca de 11 anos, quando eu questionei a aplicabilidade das aulas de estatística em nosso curso (ainda mais da forma como era passada!). O professor de estatística me respondeu que é mais fácil o MEC contratar um estatístico do que um pedagogo.

Os números ligados à educação básica no Brasil melhoraram. Mais crianças estão na escola, as notas nas provas aumentaram, mais pessoas têm acesso à universidade. (vários destes indicadores são facilmente consultados no Portal do Inep.

Mas para aqueles que discutem qualidade de ensino estes números são questionados. As crianças são alfabetizadas de fato, sabendo interpretar o que lêem? Estamos formando pessoas críticas, pensantes, reflexivas, éticas, que valorizam a diversidade cultural e o respeito e à natureza?

Após anos de investimento nos números, será a vez de investimento na qualidade de ensino?

O novo ministro da educação Renato Janine Ribeiro já disse que vai priorizar educação básica. Helena Singer em sua equipe nos traz esperança não só de melhora, mas de transformação: “A inovação parcial, incremental, vem ganhando força, mas quero falar de experiências que radicalizem a forma de organizar o tempo, que trabalhem o espaço de modo totalmente diferente – como a de escolas que não estruturam mais o currículo em cima de aulas convencionais de 50 minutos nem 
usam carteiras enfileiradas de frente para a lousa”

Veja matéria veiculada pelo geekie que trata do assunto: 

http://info.geekie.com.br/assessora-de-ministro-quer-divulgar-inovacao-radical/?utm_content=13980706&utm_medium=social&utm_source=facebook

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Educação em Manaus: outro modelo é possível!

Manaus é uma cidade que atrai pessoas de todo o Brasil que vem trabalhar nas mais diversas áreas. Para aqueles que têm filhos e procuram uma escola que valorize o aluno dando voz às crianças, que queira os pais e a comunidade mais perto, que dê importância à capacidade de pensar e argumentar em vez da repetição e exposição ao conteúdo, Manaus não é o lugar ideal.

As escolas particulares de Manaus são quase estritamente conteudistas, muitas delas religiosas, sem respeitar a diversidade cultural. Quem já ouviu falar na pedagogia Waldorf, nas escolas democráticas, até mesmo no construtivismo, ou qualquer outra linha pedagógica que seguem os ideais de grandes educadores como Paulo Freire, José Pacheco, Emília Ferreiro, entre outros, sofre com a falta de opções em Manaus. As escolas públicas, infelizmente, seguem a realidade precária da rede pública no nosso país.

Como pedagoga, moradora de Manaus há 7 anos e mãe de dois filhos (um deles quase no 1º ano do Ensino Fundamental, já sendo cobrado a saber escrever antes da hora, com 4-5 anos, que usa livros didáticos prontos que ensinam África antes de Brasil, Pantanal antes de Amazônia, etc, etc...), este tema não sai da minha cabeça. Vou ficar sempre reclamando das escolas que eles estudam? Vou mudar de cidade? Ou vou tentar fazer algo diferente?

Qualquer uma destas coisas podem acontecer na minha vida e antes de tomar uma decisão organizei um encontro entre mães, pais e interessados em discutir “educação” em Manaus: outro modelo é possível?


O encontro foi ontem e como ponto de partida assistimos o filme “Quando eu sinto que já sei”. Depois cada um falou um pouco sobre o filme, sobre as angústias das alternativas de escolas em Manaus para nossos filhos e sobre possibilidades de ações para tentarmos transformar um pouco essa realidade de escolas tradicionais e/ou precárias.


Doze pessoas estavam presentes e já temos uma rede de e-mails de 40! O segundo encontro foi marcado para o final deste mês. Um grupo começa a se formar. Pessoas engajadas, dispostas a agir e estudar, interessadas em uma educação melhor não só para nossos filhos, mas também para a sociedade manauara! Já temos alguns encaminhamentos concretos e de uma coisa estou certa: Saímos deste encontro com uma esperança por mudança e transformação!

terça-feira, 7 de abril de 2015

Quando sinto que já sei



O filme "Quando eu sinto que já sei" me tocou de forma especial. É muito bom ver que existem alternativas possíveis ao modelo educacional atual. Melhor ainda é ver o tanto de gente boa que tem espalhada pelo Brasil tentando fazer algo diferente.

Em tempos de tantas más notícias, que ferem os direitos das minorias, assistir este vídeo me trouxe uma esperança. Esperança de um mundo melhor, de transformação e mudança. Amanhã vou passar este filme para um grupo de pais e mães interessados em discutir modelos alternativos de educação em Manaus.

Será que é possível um modelo de educação democrática em Manaus?