Momentos únicos que só quem é mãe/pai sabem como é: estar
deitada com a(o) filha(o) na cama, fazendo cócegas, conversando, rindo, vivendo...
simples e maravilhoso assim.
Em um destes dias com minha filha Luiza, de 3 anos, estava
vivendo um dia melancólico e começo um diálogo:
Eu: Filha, se um dia, nós duas, só nós duas pudéssemos fazer
qualquer coisa juntas, o que você iria escolher?
Luiza: Sair para comprar um presente para você!
Mais uma vez a criança surpreende. Mesmo já me colocando no
lugar dela, achei que ela ia responder, “viajar juntas para África”, “ir no
cinema só nós duas”... Mas não, ela queria usar este momento para comprar um
presente para mim. Dei um sorriso enorme e continuei:
“Sério? E qual presente seria este presente?”. A resposta da Luiza...: “Um jornal”.
Pronto. Aí a surpresa foi maior. Um jornal??? Ri muito e
acabei continuando o diálogo na lógica do adulto, ambicioso...
“Um Jornal? Só isso que você quer fazer com a mamãe num
momento só nós duas?”
Luiza: “Ta bom. Nesse dia só de nós duas a gente pode
comprar um presente para mim também. Uma boneca com chupeta de verdade”.
Aí reside a
simplicidade do momento. Por que nós adultos temos tanta dificuldade em ser
simples como as crianças? E mais: por que a teoria da psicologia já tão provada
da fase egocêntrica é colocada como rígida e absoluta? Claro, a criança pequena
é egocêntrica (vejam, ela pede uma boneca para ela). Mas o que ela quer antes
disso? Comprar um presente para mim...
A criança é solidária, pensa no outro, desde bebê. Sabe
quando um bebê chora em um lugar público e todos os outros bebês e crianças se
atentam à isso? Vejo nos olhinhos deles, os questionamentos: “por que será que
este bebê está chorando? Será que a mãe dele já está lá ajudando?”.
Não nego a fase egocêntrica, longe de mim contrariar Freud e Piaget (!). Mas para mim (e desconfio que para Freud e Piaget também...) a criança é egocêntrica como devemos ser. É um egocêntrico
bonito, humano, extintivo. “Este brinquedo é meu e pronto”. E é verdade: é dele
mesmo.
Por que tem que emprestar para o amiguinho? Forçamos as
crianças a agir com uma suposta gentileza moral, que muitas vezes, nem nós
adultos damos conta desse exercício em nossas vidas. Geralmente nós não somos
capazes de dividir nossos bens com ninguém. Você emprestaria “só um pouquinho”
seu celular para um colega do trabalho? Ou quem sabe dar uma garfada da sua
comida para um estranho no restaurante...
A Luiza, mesmo com
sua personalidade forte, com sua braveza e todo seu egocentrismo, chega de uma
festinha de aniversário e divide sua lembrancinha com o irmão, que não foi na
festa.
Pois é, a Luiza está me ensinando que não é tão simples
assim definir e taxar as diferentes fases das crianças...
*Foto de Danilo Bueno, em 16/10/2016
*Foto de Danilo Bueno, em 16/10/2016